“Onde estás?” – Foi assim que um dia ouvi a tua voz me chamar e então me dei conta do quão perdido eu estava, quão longe de ti. Embora tenha sempre não apenas ignorado, mas até mesmo negado tua existência, estavas ali a me buscar e eu não podia mais me esconder; não havia mais para onde ir; eu não tinha mais como resistir. Pela tua voz, tudo se fez novo e, de repente, eu me vi brincando contigo nos passeios vespertinos – amavas caminhar aos fins de tarde, quando a brisa do dia soprava pelo jardim. Ora conversávamos sobre tudo um pouco; ora permanecíamos em contemplativo silêncio. Às vezes nos alegrávamos; às vezes nos entristecíamos – e dos meus olhos enxugavas todas as lágrimas. Em tudo estávamos juntos. Tua direção era tão precisa; tua voz tão clara, tão forte, tão real. Tua presença era o próprio paraíso!
Onde estás? É o que pergunto agora. Sei que continuas sempre por perto, mas já não te sinto como antes. Não sei exatamente como, nem a partir de quando, tudo começou a mudar. Nada de extraordinário aconteceu, mas, aos poucos, foi batendo um cansaço, nossas conversas foram mudando de tom, depois foram ficando para trás. Tua voz já não é mais tão clara, nem tão certa tua direção. Tuas promessas parecem esquecidas. Hoje eu olho ao redor e vejo outra vez um vazio. Por mais que eu chame, não escuto tuas respostas. Por mais que eu tente, não consigo entender teus propósitos. Tudo parece sem sentido. Um estranho silêncio sopra entre nós. É como atuar em um filme sem saber como será o final… É fim de tarde. Tenho os olhos rasos d’água. Acho que vou sair para passear um pouco. Vens comigo?

▷ Publicado originalmente em 17 de novembro de 2009 e dedicado a uma pessoa especial que, à época, estava se sentindo longe de Deus.