2 de maio de 1995: há exatos 30 anos, em Araguaína, interior do Tocantins, nascia uma voz que, 20 anos mais tarde, habitaria espaços que nem eu sabia que meu peito escondia. Roubando os versos compostos* por sua grande parceira musical, de fato, nem mesmo nas minhas melhores linhas eu poderia escrever o que sinto quando a ouço, mas, mesmo não precisando, no meu coração essa voz tem, sim, um altar, um canto de onde o seu canto ecoa para os esconderijos mais secretos e impenetráveis da minha alma!
Não é sobre ser melhor (tola necessidade essa que tantas pessoas têm de se sentirem superiores às outras); não é sobre técnica, tom, potência, extensão, timbre ou qualquer outro termo que só especialistas têm competência para julgar (e simplesmente não me importam as opiniões dos maiores especialistas da face da Terra ou do espaço!). É sobre me tocar de um jeito que não pode ser expressado por qualquer vocábulo já conhecido. Seria preciso inventar um novo dicionário inteiro, quiçá uma nova linguagem inteira!
Se me encontrar ouvindo essa voz, é melhor dar meia-volta e tentar falar comigo em outro momento. Não existe a menor possibilidade de eu prestar atenção a uma única palavra que você tenha a me dizer! Isto é, a menos, é claro, que queira contar que ficou milionário e vai me presentear com um show exclusivo (e, nesse caso, sem querer abusar, peço a gentileza de manter uma ambulância de plantão).
A dona dessa voz que me eleva a tamanho êxtase? Vitória Fernandes Falcão. Para quem não associou o nome à pessoa, estou falando da metade de cabelos encaracolados e deliciosamente bagunçados do Anavitória, duo de folk-pop que, desde seu surgimento no cenário musical brasileiro, bate tão forte no meu peito quanto algumas saudosas bandas de rock já bateram um dia.
É claro que sou também apaixonada pela voz de Ana Clara Caetano e torço muito para que a parceria jamais se desfaça, pois embora ambas vozes me soem belíssimas individualmente, a combinação entre elas me fascina ainda mais; é uma simbiose perfeita, como sugere a foto na capa do primeiro álbum. Mesmo assim, a voz de Vitória continua a mexer comigo de um jeito que nenhuma outra voz jamais mexeu.
Já ouvi dizer que alguns cantores têm uma lágrima na voz. Pela minha percepção, Vitória tem um sorriso na voz! Não é preciso vê-la cantando para saber quando ela está sorrindo – e ela vai além: enquanto outras pessoas me encantam quando cantam, ela me encanta mesmo quando simplesmente fala! Nas poucas entrevistas que vi (procuro não ver tantas que é para manter a magia), que delícia que é ouvir tiradas geniais despretensiosamente ditas por essa voz que tanto massageia meus sensíveis ouvidos!
Enfim, como já mencionei no início desses parágrafos que fluem dos meus dedos acompanhados de suspiros que brotam do meu respirar, nem mesmo nas minhas melhores linhas eu poderia escrever o que sinto quando a ouço, mas quem precisa das minhas linhas quando se tem a voz de Vitória Falcão?
*“Não se arrisque em tentar me escrever nas suas melhores linhas. Eu não preciso de altar. Só vem, repousa a tua paz na minha…” – versos de Calendário, minha música preferida do duo; isto se uma arma apontada para a minha cabeça me obrigar a escolher uma só. Para meu mais completo deleite, há uma versão somente com a voz de Vitória [faixa 31 na playlist abaixo]. Embora eu continue preferindo a gravação original, em que a voz de Ana Caetano também arrebata minha alma logo no primeiro (sem exageros) meio segundo, é inacreditavelmente especial o fato de que, em toda a discografia disponível no Spotify, até a presente data, a única faixa que tem um registro somente com a voz de Vitória é exatamente esta. 🥰
♪ ANAVITÓRIA: IN THEIR BEST LINES
[Uma playlist de Musings N’ Music]
Quando eu nada mais esperava de bom das novas gerações de músicos brasileiros, para minha total surpresa, foi em pleno centro-oeste – região infelizmente conhecida por exportar para o resto do país certas pragas que tão terrivelmente agridem meus ouvidos – que surgiu a novidade que reacendeu minha paixão pela música brasileira e até me fez crer que nem todos os jovens filhos deste solo são fúteis e/ou vulgares, ou têm o gosto duvidoso, para dizer o mínimo. Em parte por causa do duo Anavitória, acabei descobrindo outros artistas que também merecem ser conhecidos, mas a morada que Ana e Vitória ocupam em meu coração é exclusiva e intransferível. De todas as minhas playlists, esta é a mais obrigatória nas viagens que faço. Afinal, “vai que” o avião tome rumos inesperados… Se assim for, minha alma partirá para um novo destino embalada por duas das vozes que mais fizeram valer a pena viver!
▷ Claro que não foi fácil chegar a essas 31 músicas! Precisei criar alguns critérios e, mesmo assim, ressalto que essas são minhas escolhas de hoje. Seria óbvio que fosse 30 e eu bem que eu tentei, mas estou considerando a 31ª uma “faixa bônus”, dessas que os artistas gostam de incluir em seus álbuns. Além disso, em outubro é a vez da Ana fazer 31 anos. Então, se até lá não lançaram outras músicas que eu queira incluir aqui, já fica tudo resolvido desde agora. E, sim, essa sou eu criando qualquer desculpa para manter todas essas músicas nesta playlist. 😇 Para quem quiser conhecer ainda melhor a obra delas, uma seleção mais abrangente está disponível em Brazil SUPER Station [faixas 25 a 94].
